Embalagens plásticas, como copos, garrafas e até mamadeiras, podem causar danos para a saúde, como problemas cardíacos e reprodutivos, além de predisposição para câncer, diabetes, hiperatividade e obesidade. A responsável por esses efeitos nocivos é uma substância química encontrada na fabricação de produtos plásticos, chamada bisfenol-a (BPA). Líquidos ou alimentos colocados em recipientes plásticos são contaminados por esse componente.
A ONG National Workgroup for Safe Markets analisou cerca de 50 tipos de alimentos armazenados em embalagens plásticas e o resultado assusta: o BPA estava presente em 92% das embalagens estudadas. De acordo com o médico especialista em Cardiologia, Nutrologia e Medicina Preventiva, Sergio Vaisman, a contaminação por bisfenol ocorre, principalmente, por tempo de armazenamento do produto.
"Quando o alimento está contido em recipientes plásticos, o bisfenol é liberado gradativamente no produto. Leite, frutas e água armazenados em garrafas plásticas, por exemplo, podem ser facilmente contaminados pelo BPA, já que costumam ficar em contato direto e muito tempo dentro dos recipientes. À medida que usamos este tipo de embalagem, o revestimento interno do plástico entra em contato com o alimento, impregnando-o com essa substância nociva à saúde", esclarece Vaisman.
Uma pesquisa da faculdade de Saúde Pública de Harvard (Estados Unidos) constatou que quando embalagens de plásticos são aquecidas, como no caso da mamadeira, aumenta o risco de contaminação por bisfenol-a no corpo. "Vale lembrar que além das mamadeiras, outras embalagens plásticas podem receber aquecimento, como potes vendidos para armazenar comida e garrafas pet, que armazenam refrigerante. Muitas vezes esses recipientes são aquecidos no microondas ou, no caso das garrafas, ficam empilhados e expostos ao sol, no momento do transporte e da distribuição do produto. Isso significa que aquele líquido já chega às lojas saturado de bisfenol-a", alerta o médico.
Bisfenol-a em ação no corpo
O bisfenol-a é considerado um xenoestrógeno. Isso significa que a substância "imita" a função do estrógeno, hormônio feminino. "Como o corpo, tanto do homem quanto da mulher, tem receptores de estrógenos, o BPA interfere na ação desse hormônio e funciona no lugar dele. Nas mulheres ocorre uma hiperdosagem de estrogênio, deixando a pessoa mais suscetível ao câncer de mama. No homem, aumenta a incidência de câncer de próstata", informa o especialista.
Além disso, o bisfenol desmasculiniza jovens do sexo masculino, ou seja, o menino perde ou sofre déficit em suas características masculinas. Podem ocorrer: diminuição do pênis, má formação da uretra e redução da produção do número de espermatozóides. "Ao longo dos últimos 40 anos tem havido uma diminuição da contagem de espermatozóides dos homens em todo o mundo. Isso é derivado de algo que está em volta da gente, como estresse, fumo, drogas e, é claro, o bisfenol-a", pontua o médico.
Nos bebês são observados os mesmo efeitos, porém a longo prazo. Segundo o especialista, crianças em contato com o bisfenol-a podem sofrer deficiências nos órgãos genitais; desenvolvimento de gordura abdominal, favorecendo a obesidade; aparecimento de diabetes tipo 2 e, no caso dos meninos, puberdade tardia.
"Quanto mais jovem, mais exposição ao bisfenol a pessoa já sofreu. Idosos, por exemplo, já têm contato com o BPA há anos. E como não bastassem todos os efeitos nocivos, a substância ainda é capaz de diminuir a defesa imunológica do corpo", acrescenta Vaisman.
As embalagens são seguras?
O BPA foi introduzido na indústria para dar mais flexibilidade ao plástico. Além dessa substância, embalagens plásticas também contêm ftalato, componente que ajuda a amolecer o plástico e potencializa o efeito do bisfenol no corpo. Países como Canadá, Costa Rica, Dinamarca e alguns estados americanos já proibiram o uso das substâncias. No Brasil, as discussões sobre as consequências maléficas do bisfenol-a são recentes e entraram na pauta do Ministério Público Federal, que abriu inquérito para investigação.
Nos Estado Unidos, embalagens plásticas vêm acompanhadas de selos "BPA Free", que garantem a ausência da substância. No Brasil, o BPA ainda é utilizado, desde que obedeça as exigências da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), que limita o uso em 0,6 mg para cada quilo de plástico. Segundo o órgão, essa quantidade não apresenta perigo para a saúde e algumas embalagens já adotam selos de certificação, que indicam a presença de bisfenol no recipiente. Geralmente, o bisfenol-a está presente no plástico número 7. Selos com números inferiores, como 3 ou 5, estariam livres da contaminação pela substância.
Em contrapartida, o médico Sergio Vaisman acredita que estas medidas não são seguras. "O plástico indicado pelo número 7 sem dúvida é o que contém mais bisfenol-a. Mas ainda não temos garantia de que os outros produtos, inclusive os que vêm acompanhados do selo "BPA Free", sejam menos agressivos à saúde. Na minha opinião, todo plástico contém bisfenol e altera, sim, o organismo", afirma.
Como se prevenir
O órgão americano que regula o segmento de alimentos e medicamentos, conhecido como Food and Drug Administration (FDA) aponta que o vidro ainda é a embalagem mais segura para os consumidores, já que não é tóxico e livre de substâncias nocivas à saúde.
"O vidro é muito mais seguro, pois não transmite toxinas aos alimentos e ainda mantém o frescor do que é armazenado. Além disso, é 100% reciclável e pode ser retornável em até 30 vezes. Acredito que muitas pessoas ainda são resistentes a este material, pois só ter embalagem de vidro em casa dá a sensação de um retrocesso. Mas é preciso atentar para os benefícios trazidos para o que consumimos e, principalmente, para a nossa saúde", finaliza o especialista.
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