1. O que é
Fibromialgia?
A
Fibromialgia é uma síndrome clínica que se manifesta, principalmente, com dor
no corpo todo. Muitas vezes fica difícil definir se a dor é nos músculos
ou nas articulações. Os pacientes costumam dizer que não há nenhum lugar
do corpo que não doa. Junto com a dor, surgem sintomas como fadiga (cansaço),
sono não reparador (a pessoa acorda cansada, com a sensação de que não dormiu)
e outras alterações como problemas de memória e concentração, ansiedade,
formigamentos/ dormências, depressão, dores de cabeça, tontura e alterações
intestinais. Uma característica da pessoa com Fibromialgia é a grande
sensibilidade ao toque e à compressão de pontos nos corpos.
2. Qual é a
causa da Fibromialgia?
Não existe
ainda uma causa definida, mas há algumas pistas de porque as pessoas
têm Fibromialgia. Os estudos mostram que os pacientes apresentam uma
sensibilidade maior à dor do que pessoas sem Fibromialgia. Na verdade,
seria como se o cérebro das pessoas com Fibromialgia interpretasse de
forma exagerada os estímulos, ativando todo o sistema nervoso para fazer a
pessoa sentir mais dor. A Fibromialgia também pode aparecer depois
de eventos graves na vida de uma pessoa, como um trauma físico, psicológico
ou mesmo uma infecção grave. O mais comum é que o quadro comece com uma
dor localizada crônica, que progride para envolver todo o corpo. O motivo
pelo qual algumas pessoas desenvolvem Fibromialgia e outras não ainda é
desconhecido. O que não se discute é se a dor do paciente é real. Hoje, com
técnicas de pesquisa que permitem ver o cérebro em funcionamento em tempo real,
descobriu-se que pacientes com Fibromialgia realmente estão sentindo a dor que
dizem sentir. Mas é uma dor diferente, em que não há lesão no corpo, e, mesmo
assim, a pessoa sente dor. Mesmo não sabendo a causa exata, sabemos que algumas
situações provocam piora das dores em quem tem Fibromialgia. Alguns exemplos
são: excesso de esforço físico, estresse emocional, alguma infecção, exposição
ao frio, sono ruim ou trauma.
3. Que
grupo de pessoas é mais afetada pela síndrome?
A
Fibromialgia é bastante frequente. No Brasil está presente em cerca de 2% a 3%
das pessoas. Acomete mais mulheres que homens e costuma surgir entre os 30
e 55 anos. Porém, existem casos em pessoas mais velhas e também em
crianças e adolescentes.
4. Quais
são os sintomas da Fibromialgia?
O principal
sintoma da Fibromialgia é a dor generalizada (dor no corpo todo),
percebida especialmente nos músculos. É muito comum que o paciente sinta
dificuldade de definir onde está a dor, e muitos referem-na como sendo “nos
ossos”, nas “juntas” ou “nas carnes”. Como os músculos estão presentes por todo
o corpo, este é o motivo da confusão. Importante notar que não só o paciente
refere dor espontânea, mas também bastante dolorimento ao toque. Comumente o
paciente com Fibromialgia refere que não pode ser abraçado ou mesmo acariciado.
Além da dor, o cansaço é uma queixa frequente na Fibromialgia. Muitas vezes
é difícil diferenciar este cansaço da sonolência. As alterações do sono
são extremamente comuns na Fibromialgia, e as primeiras alterações objetivas
desta doença foram detectadas no estudo do sono (polissonografia) destes
pacientes. Muitas vezes o paciente até dorme um bom número de horas, mas
acorda cansado – é o famoso “sono não reparador” da Fibromialgia. Também
pode ocorrer insônia, sensação de pernas inquietas antes de dormir e
movimentos da perna durante o sono. Como a Fibromialgia é uma doença em
que as sensações estão amplificadas, são comuns as queixas em outros lugares do
corpo, como dor abdominal, queimações e formigamentos, problemas para urinar e
dor de cabeça. Como outros pacientes que sofrem de dor crônica, existem também
as queixas de falta de memória e dificuldades na concentração. Os distúrbios do
humor como ansiedade e depressão são comuns e importantes, como será visto a
seguir.
5.
Por que algumas pessoas não acreditam na Fibromialgia?
A
Fibromialgia é uma doença em que não existe uma lesão dos tecidos – não há
inflamação ou degeneração. Com estudos mais modernos, verificou-se que a
dor na Fibromialgia é causada por uma amplificação dos impulsos dolorosos,
como se a pessoa tivesse um “controle de volume” desregulado. Isso só é visto
em exames muito específicos, em pesquisas científicas. Na prática clínica, não
há como provar que a pessoa está sentindo dor crônica – a reação corporal é
muito diferente do que na dor aguda. O paciente não está agitado, suando frio,
gritando como acontece em um infarto ou uma cólica renal. Na dor crônica, na
maioria das vezes a pessoa comunica-se bem e parece calma. A reação à dor
nota-se na presença de depressão, afastamento social, alteração do sono e
cansaço. Tudo isso leva algumas pessoas, até mesmo profissionais de saúde, a
terem dúvidas se os sintomas são reais ou não. Mas a experiência acumulada de
anos, as histórias de dor muscular e outros sintomas sendo descritos da mesma
maneira em vários locais do mundo, e mais recentemente a visualização do
cérebro do paciente com Fibromialgia em funcionamento, permitem uma
classificação bastante adequada dos pacientes como tendo esta condição.
6. Por que
se fala tanto de depressão quando se toca no assunto Fibromialgia?
Tanto a
ansiedade quanto a depressão influenciam negativamente a Fibromialgia, de forma
semelhante ao que ocorre em outras doenças.
A depressão é muito frequente na Fibromialgia, estando presente em até 50% dos
pacientes. Desta forma, frequentemente observamos pacientes com Fibromialgia e
depressão. Ambas as condições atuam como um círculo vicioso, piorando o quadro.
O paciente deprimido também apresenta distúrbio do sono e fadiga, sintomas
comuns na Fibromialgia. É importante ressaltar, no entanto, que uma parcela
considerável de pacientes com Fibromialgia não apresenta depressão, de forma
que ambas, depressão e Fibromialgia, são condições clínicas diferentes. Da
mesma forma, vários estudos confirmaram que a dor sentida pelo paciente com
Fibromialgia é real, e não imaginária ou “psicológica” como alguns supunham.
Quando presentes em um mesmo paciente, tanto a depressão quanto a Fibromialgia
devem ser adequadamente tratadas.
7. Por que
a Fibromialgia piora quando ficamos tristes ou deprimidos?
A
interpretação da dor no cérebro sofre varias influências, dentre elas das
emoções. As emoções positivas, como alegria e felicidade, podem diminuir o
desconforto da dor e as negativas, como tristeza e infelicidade, podem
aumentar este desconforto. Em parte isto é explicado pelos
neurotransmissores (substâncias químicas cerebrais que conectam as
células nervosas), como a serotonina e a noradrenalina, que têm papel
importante na interpretação da dor e na depressão. Desta forma, pacientes
com Fibromialgia que não estejam bem tratados do quadro depressivo terão
níveis mais elevados de dor. É importante ressaltar que a piora observada no
quadro doloroso é real e não é “psicológica”.
8. Como é
feito o diagnóstico da Fibromialgia?
O
diagnóstico da Fibromialgia é essencialmente clínico. O médico durante a
consulta obtém algumas informações que são essenciais. Os sintomas mais
importantes são dor generalizada, dificuldades para dormir ou acordar
cansado e sensação de cansaço ou fadiga durante todo o dia. Alguns outros
problemas podem acompanhar a Fibromialgia como depressão,
ansiedade, alterações intestinais ou urinárias, dor de cabeça frequente,
entre outros. Ao examinar, o médico pode observar uma grande sensibilidade
em pontos específicos dos músculos. Estes pontos são conhecidos como
pontos dolorosos. Hoje não se valoriza muito a quantidade de pontos que estão
dolorosos, mas a sua presença ajuda nesse diagnóstico.
Uma
organização médica americana chamada Colégio Americano de Reumatologia
criou alguns critérios para ajudar esse diagnóstico. Eles incluem dor
difusa e os pontos dolorosos já citados.
Esses
critérios são muito utilizados para realizar pesquisas sobre Fibromialgia, mas
no dia a dia o principal é a avaliação médica. Ainda na consulta podem ser
utilizados alguns questionários que ajudam tanto no diagnóstico quanto no
acompanhamento dos pacientes. Entre esses questionários eu citaria o Índice de
Dor Generalizada, o Índice de Severidade dos Sintomas e o Questionário de
Impacto da Fibromialgia.
9. Existe
algum exame que faça o diagnóstico da Fibromialgia?
Em relação
ao diagnóstico, não existem exames para Fibromialgia. O diagnóstico é
totalmente clínico e feito através dos sintomas e sinais. O seu médico pode
pedir exames para excluir doenças que se apresentam de forma semelhante à
Fibromialgia ou ainda para detectar outros problemas que podem ocorrer junto e
influenciar na sua evolução.
10. Existe
cura para a Fibromialgia? A Fibromialgia vai me deixar aleijado ou deformado?
A
Fibromialgia é uma condição médica crônica, significando que dura por muito
tempo, possivelmente por toda a vida. Entretanto, pode ser confortador
saber que, embora não exista cura, a Fibromialgia não é uma doença progressiva.
Ela nunca é fatal e não causa danos às articulações, aos músculos, ou órgãos
internos. Embora ainda não tenha sido descoberta a cura para Fibromialgia, em
muitas pessoas ela melhora com o tempo, e há casos nos quais os sintomas
retrocedem quase totalmente. A Fibromialgia não deve ser encarada como uma
doença que necessita de tratamento, mas sim como uma condição clínica que
requer controle. Isso porque, na pessoa predisposta, suas manifestações ocorrem
ao longo da vida, na dependência de uma gama de fatores físicos e emocionais.
Nesse contexto, as manifestações devem ser tratadas na direta proporção de sua
gravidade. Porém, com o tratamento atual da Fibromialgia é possível a pessoa
experimentar ficar sem dor ou com a dor em um nível muito baixo. Os outros
sintomas como a fadiga, a alteração do sono e a depressão também podem ser tratadas
adequadamente. Mais do que em outros problemas, o tratamento da Fibromialgia
depende muito do paciente. O médico deve atuar mais como um guia do que somente
uma pessoa que fornece remédios. É muito importante que a pessoa com
Fibromialgia entenda que a atividade física regular terá que ser mantida para o
resto da vida, pelo risco de a Fibromialgia voltar se esta atividade for
interrompida. Diferentemente de outras enfermidades reumatológicas, como a
Artrite Reumatoide e Artrose, a Fibromialgia não causa deformidades ou
incapacidades físicas graves. Entretanto, podemos observar, em um número
significativo de pacientes, uma queda importante da qualidade de vida, com
reflexos nos aspectos social, profissional e afetivo destes pacientes. Uma
questão central para os fibromiálgicos é a dificuldade para a execução de
tarefas, profissionais ou do cotidiano. Os pacientes mostram-se extremamente
inseguros quanto ao desempenho pessoal, gerando um estado crônico de
revolta em relação a sua saúde. Queixam-se frequentemente da redução da
qualidade do seu trabalho, com consequente influência em sua vida
profissional e mesmo na renda familiar.
Comuns
também são relatos de indiferença por parte de amigos e familiares, problemas
conjugais e diminuição da frequência de atividades de lazer e mesmo religiosas.
Cerca de 70% dos pacientes com Fibromialgia referem que a doença afeta
negativamente a sua vida sexual, na mesma proporção para o(a) companheiro(a). Os
familiares também sofrem neste convívio com os portadores de fibromialgia,
devido ao intenso estresse psicológico. É importante salientar, que a gravidade
da Fibromialgia pode estar também relacionada com as diversas outras doenças
crônicas como a Artrite Reumatoide, Lúpus Eritematoso Sistêmico, Artrose,
Tendinites, entre outras que afetam o aparelho osteoarticular. Da mesma forma,
torna-se mais grave quando associada aos distúrbios psiquiátricos como a
depressão e ansiedade.
11. Devo
fazer algum tipo de atividade física?
Sim. Além
dos muitos benefícios à saúde, a atividade física é reconhecidamente um
método não medicamentoso de grande impacto na melhora da dor, do humor e
da qualidade de vida dos pacientes com Fibromialgia. Constitui-se, assim,
uma intervenção fundamental, aliada às medidas medicamentosas, para o
tratamento da Fibromialgia.
12. Será
que eu não vou piorar se fizer atividade física? Como devo fazê-la?
Os
exercícios físicos são seguros. Antes de iniciá-los, no entanto, é importante
realizar uma avaliação funcional e de riscos potenciais inerentes aos
sistemas cardiovascular, respiratório e locomotor, bem como dos
medicamentos em uso.
A atividade física deve, portanto, ser individualizada e prescrita pelo médico
e, se for necessário, acompanhada por profissional especializado na área. Os
exercícios são classificados em aeróbicos, de fortalecimento e de alongamento.
Dentre esses, os aeróbicos no solo (caminhadas) ou na piscina (hidroginástica)
são os mais bem estudados e de valor definido como determinantes da melhora de
vários parâmetros clínicos da fibomialgia (dor, distúrbios do sono, fadiga,
depressão e ansiedade).
Os
exercícios de fortalecimento e de alongamento também têm seu valor cada vez
mais reconhecido e podem ser prescritos como forma segura e eficaz para o
tratamento não-medicamentoso da Fibromialgia. Quanto à adaptação e aos
resultados de um determinado programa de atividade física, deve-se salientar
que os parâmetros de melhora podem demorar algumas semanas para serem
reconhecidos, e, dado o condicionamento prévio de cada indivíduo, pode até
ocorrer uma piora da dor nas primeiras semanas da realização dos exercícios.
Dessa maneira, a atividade física deve ser sempre iniciada de forma gradual,
com incrementos progressivos ao longo do programa. O ideal é que seja realizada
de três a cinco vezes por semana, durante 30 a 60 minutos. Por último, a
prática de exercícios físicos deve ser prazerosa e parte do estilo de vida de
cada um. Discuta com seu médico suas preferências. É importante considerar o
tipo de exercício, o local e o horário para praticá-lo. O importante é
realizá-lo com regularidade.
13. O que é
terapia cognitiva-comportamental? Como ela pode me ajudar?
A
psicoterapia cognitiva-comportamental (TCC) leva principalmente em conta a
forma como cada um age perante os acontecimentos do dia a dia, para tentar
entender e modificar suas emoções e seu modo de agir. Desta forma, a TCC
dá uma grande ênfase aos pensamentos do cliente e à forma como este interpreta
o mundo, sendo que seu objetivo é ajudá-lo a aprender novas estratégias
para atuar no ambiente de forma a promover mudanças necessárias.
Na Fibromialgia, a TCC poderia auxiliar o paciente a entender e
interpretar melhor suas atitudes frente à dor e demais sintomas da
Fibromialgia para enfrentá-los de forma mais eficaz. Em Fibromialgia, os
resultados são conflitantes, com trabalhos demonstrando resultados
variáveis com melhora na dor, depressão e capacidade funcional em curto
prazo; outros somente se associados à farmacoterapia, mas não mantém os
efeitos após um ano.
14. Por que
os antiinflamatórios ou outros remédios para dor não me ajudam?
Os
anti-inflamatórios e os analgésicos simples são excelentes medicamentos para
tratar as dores associadas a dano tecidual. Como exemplo, citamos a dor
causada por uma contusão muscular.
Nesta
situação temos um dano no tecido muscular que origina a dor e o
anti-inflamatório atuará para tratá-la e sanar a inflamação muscular. Na
Fibromialgia não sabemos ainda a causa exata da dor. Não identificamos nenhum
dano tecidual. O que ocorre é que nos pacientes com Fibromialgia há uma
sensibilidade maior à dor comparada a pessoas sem Fibromialgia. Isso acontece
porque o cérebro das pessoas com Fibromialgia interpreta exageradamente os
estímulos nervosos. Os analgésicos e anti-inflamatórios não são eficazes na
Fibromialgia, pois não conseguem regular o cérebro para diminuir a sensação
exagerada de dor que é sentida pelos pacientes.
15. Por que
somos tratados com medicamentos para depressão e convulsão se não sofremos
disso?
Como temos
citado aqui, na Fibromialgia há toda uma falta de regulação da dor por parte
do cérebro. Isto ocorre em parte por alterações dos níveis de
neurotransmissores no cérebro. Os neurotransmissores são substâncias químicas
produzidas pelos neurônios, as células nervosas. Estas células enviam
informações a outras células por meio de neurotransmissores. Existem
neurotransmissores que agem diminuindo a dor e outros que a intensificam.
Os
antidepressivos e neuromoduladores atuam aumentando a quantidade de neurotransmissores que
diminuem a dor, sendo por isso eficazes e utilizados no tratamento da
Fibromialgia.
Nenhum comentário:
Postar um comentário