“Nada é. Tudo está.”

15/04/2012

Perigo à espreita no percurso

A trombose venosa profunda (TVP) raramente dá sinais de alerta e pode passar despercebida, enquanto vai obstruindo os vasos sangüíneos. Conheça a doença que só costuma ser descoberta durante uma grave complicação

Causada pela coagulação do sangue no interior das veias (vasos sangüíneos que conduzem o sangue da periferia ao coração e pulmão), a trombose venosa profunda (TVP), também conhecida como flebite ou tromboflebite profunda, é caracterizada pela formação de trombos (coágulos).
De acordo com o cirurgião vascular, Ricardo Aun, do Hospital Albert Einstein, de São Paulo, em 90% dos casos, as veias mais atingidas são as dos membros inferiores. A doença afeta 50 pessoas em cada grupo de 100 mil, sendo a terceira doença mais freqüente do aparelho vascular, perdendo apenas para o derrame e o infarto do miocárdio.
Mas por que, afinal, o sangue coagula dentro da veia? Pelo desequilíbrio. Para entender melhor: no sangue há fatores que favorecem a sua coagulação, os chamados procoagulantes, e outros que a inibem, os anticoagulantes, responsáveis pela manutenção do sangue em estado líquido. Quando a balança pende para o lado dos procoagulantes, acontece a formação do trombo.
Segundo Valter Castelli Jr, presidente da Sociedade Brasileira de Angiologia e Cirurgia Vascular, da Regional São Paulo, três situações favorecem a coagulação:

1. Estase venosa - é a diminuição da velocidade da circulação, que acontece após a pessoa permanecer parada por longo período de tempo (viagens de avião, automóvel ou ônibus), cirurgias prolongadas, pessoas acamadas etc.

2. Lesão do vaso - a veia normal tem paredes finas e lisas por onde o sangue passa sem coagular. Qualquer trauma, lesão, ruptura na parte interna, introdução de medicação, cateterismo, infecções, entre outros fatores, pode levar aos trombos.

3. Hipercoagulabilidade ou coagulação fácil - quando há desequilíbrio em favor dos coagulantes. Pode ocorrer na gravidez, durante o uso de anticoncepcionais, e na presença de doenças como diabetes ou distúrbio genético de coagulação.

PREVENÇÃO É MOVIMENTO
Para os angiologistas, especialistas que tratam as moléstias vasculares, prevenir trombose significa combater a estase venosa, isto é, fazer o sangue venoso circular, facilitando seu retorno ao coração. Saiba como movimentar o fluxo na prática:

Faça caminhadas regularmente. Os movimentos reforçam a musculatura, promovem uma 'massagem' nas veias e estimulam o fluxo sangüíneo.
Se ficar sentado muito tempo, faça dorso-flexão: eleve a ponta do pé em direção ao tornozelo. Flexione e alongue também os joelhos em direção à cintura.

Antes de uma viagem longa, fale com seu médico sobre o possível uso de uma medicação preventiva.

Evite qualquer uma daquelas três condições que favorecem a formação do coágulo dentro da veia, descritas abaixo.

Matenha-se longe do tabaco e do sedentarismo.

Controle seu peso.

Se você precisa de alguma terapia hormonal, já sofreu de trombose ou tem histórico familiar de trombofilia, consulte regularmente seu médico.

Use meia elástica, se você trabalha o dia inteiro sentada. Ela massageia e faz pressões específicas nas áreas de maior fluxo sangüíneo.
Dor em uma perna é alertaÉ mais comum os sintomas da TVP começarem em uma das pernas, principalmente na panturrilha (a "batata" da perna). São eles: dor, inchaço e rubor na área afetada. "Diante de tais manifestações, o paciente deve ser encaminhado a um serviço médico de emergência, sobretudo pelo risco do quadro evoluir para uma embolia pulmonar, a complicação mais temida", destaca Bonno Van Bellen, chefe da equipe de cirurgia vascular do Hospital Beneficência Portuguesa (SP).
A embolia pulmonar ocorre, quando o coágulo se desprende da veia e, sob a forma de êmbolo, migra e chega até o pulmão, onde pode obstruir uma artéria.
É uma complicação de maior gravidade e costuma vir acompanhada de falta súbita de ar, dor torácica e, nos casos mais graves, arritmia, diminuição da pressão arterial e até morte súbita.


"Mesmo na ausência desses sintomas respiratórios não se pode descartar essa complicação, mesmo porque 30% dos casos de embolia resultam em morte", alerta Bonno Van Bellen.

Como chegar aos coágulos
O diagnóstico da TVP é difícil, pois na metade dos casos ela não manifesta sintomas. "É importante pensar na possibilidade da doença em todos aqueles com queixas nos membros inferiores e que apresentem um ou mais "fatores de risco". Após um completo exame clínico feito por um especialista, sua suspeita deve levar à realização de exames complementares para confirmar o diagnóstico e dar início ao tratamento", orienta Nilo Izukawa, chefe do setor de cirurgia vascular do Instituto Dante Pazzanese de Cardiologia, em São Paulo.
O mais solicitado é o duplex-scan. Nele, uma caneta especial emite freqüências sonoras, que são refletidas pelos glóbulos, mostrando a velocidade do fluxo sangüíneo do vaso estudado. Se reduzida, há suspeita de trombos, que podem ser visualizados no decorrer do exame. Na flebografia, faz-se injeção de contraste para radiografar a perna. Se houver obstrução, ela aparece na radiografia. Eventualmente, opta-se pela ressonância ou tomografia computadorizada, para diagnosticar lesões localizadas.

Tratamento é clínico
O tratamento da TVP é realizado no hospital por um período de cinco a sete dias, quando são utilizados anticoagulantes injetáveis (heparinas), como relata Valter Castelli. São eles que previnem o crescimento do trombo, evitam a formação de novos coágulos e diminuem o risco de embolia pulmonar. Hoje, pode-se evitar a hospitalização com o uso de heparinas de baixo peso molecular.
Após a alta, o paciente toma anticoagulantes orais por três a seis meses, podendo prolongar-se por um ano ou mais, dependendo da extensão da doença e do quadro clínico do indivíduo. "Pacientes com histórico genético de alteração na coagulação sangüínea serão prováveis candidatos a tomar a medicação pelo resto da vida", esclarece Castelli. Também é recomendado o uso de meias elásticas e repouso com as pernas elevadas.
Há ainda outros tipos de terapia para a TVP, como o uso de trombolíticos (substâncias que dissolvem o trombo) e cirurgia (trombectomia para retirada cirúrgica do trombo), mas ambos são restritos a casos especiais, como ocorrências raríssimas de risco iminente de perda do membro afetado.

Fonte: Revista Viva Saúde

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