O
coração propriamente dito e mais dois nas barrigas das pernas!
O
coração humano é um motor extraordinariamente fantástico!
Tem
quatro cilindros, quatro válvulas e uma bateria, tal qual o motor de um
automóvel. Com 70 pulsações por minuto o nosso coração bate mais de
cem mil vezes em 24 horas!
Um
homem de tamanho normal possui um garrafão de cinco litros de sangue. O seu
coração é capaz, num minuto, com 70 pulsações, de fazer girar os cinco
litros de sangue por todo o corpo, completando assim a circulação total.
A
distância da circulação humana é verdadeiramente gigantesca. Se
juntarmos, topo a topo, todas as artérias, capilares, veias e
vénulas do nosso corpo, ligadas umas às outras, obteremos um total
de mais de cem mil milhas de vasos sanguíneos! Esta distância é igual a quatro
voltas em torno da Terra ao nível do Equador! E o nosso coração é capaz de
completar esta distância incrível -- a circulação total -- apenas num minuto!
Tamanho: Qual
é o tamanho do nosso coração? Quem quiser saber o tamanho do seu coração basta
fechar a mão direita e olhar para o seu punho. O coração de cada pessoa é do
tamanho do punho fechado dessa pessoa. Se abrirmos e fecharmos a nossa mão, 70
vezes por minuto e lhe juntarmos o barulho do coração "lâb-dâp" ...
"lâb-dâp"... ficaremos com uma ideia exata do trabalhar do nosso
motor cardíaco.
F orça
motriz Qual é a força motriz do nosso coração? Se juntarmos a
energia das pulsações cardíacas durante uma hora, o trabalho equivalente do
coração seria capaz de levantar a um pé de altura do chão, cinco
toneladas! Quer isto dizer que se eu fosse capaz de juntar a energia do meu
coração durante oito horas poderia levantar do chão, a um pé de altura,
quarenta toneladas, isto é, igual ao peso da Pedra de Dighton ! E durante
70 anos se acumulássemos a energia total das contrações cardíacas --
o coração seria capaz de elevar uma máquina de comboio à altura do Monte
Evereste ou sejam oito quilômetros e meio de altura!!! Parece incrível, mas é
verdade!
William
Harvey Foi em 1628 que o médico inglês, William Harvey, descobriu a
circulação do sangue e a função do coração. Até essa altura acreditava-se que
os alimentos se transformavam em sangue no coração, que as artérias estavam
cheias de ar, etc.
Harvey
formulou a circulação do sangue baseado num cálculo aritmético muito simples.
Se o coração de um homem de 70 quilos, em cada contracção ejecta 60 centímetros
cúbicos de sangue, num minuto, com 70 pulsações, o coração é capaz de
impulsionar mais de 270 quilos de sangue numa hora, quase quatro
vezes o peso da própria pessoa! Portanto só havia uma explicação óbvia: o mesmo
sangue tinha que andar à volta, tinha que circular! A descoberta da circulação
do sangue é um dos marcos mais importantes da Medicina.
Temos
mais 2 corações Se as estatísticas sobre o coração são deveras
impressionantes, temos que notar que o coração é assistido na circulação total
por mais dois corações que são os músculos das nossas coxas e os músculos das
nossas pernas! Nos animais que andam em 4 patas o seu coração está ao
mesmo nível de praticamente de todo o corpo. Mas na raça humana o
sangue circula bem, para baixo, para as coxas e para as pernas à custa da contração do coração e da força da gravidade. Mas como é que o sangue sobe
para voltar ao coração?
Devemos
notar que o sangue quando sai do coração espalha-se por meio de artérias que se
vão tornando cada vez mais fininhas (capilares) até o sangue quando chega ao
nível das células quase não tem pressão sanguínea nenhuma. Depois começa a
juntar-se em veias pequeníssimas (vénulas) que vão formar as veias cada vez
maiores para trazerem o sangue de regresso ao coração.
O
quintal Suponhamos que nós temos um poço no quintal que tem um motor
eléctrico para tirar água para regar os vegetais. O motor está ligado a uma
mangueira comprida. Quando ligamos o motor, a água sai pela mangueira e regamos
os tomateiros, as alfaces, as couves, etc.
Quando
estamos a regar, vemos que a água se infiltra pela terra. Podemos
imaginar que a água desce vagarosamente até regressar ao poço e estar
pronta a ser novamente girada pelo motor eléctrico para podermos regar
outra vez o quintal. Com esta explicação facilmente compreendemos o
que é uma circulação.
É
o mesmo que acontece com a circulação do nosso sangue. Com a diferença de que a
água regressa ao poço porque tem a ajuda da força da gravidade, porque vai para
baixo, para um nível mais baixo, para um poço. Mas no nosso corpo o sangue tem
que ir das pernas para cima! Como é que o nosso sangue consegue subir nas veias
das pernas para regressar ao coração?
Os
músculos da barriga das pernas e os músculos das coxas contraindo-se, comprimem
as veias profundas de tal maneira que o sangue tem que ser
impulsionado para cima porque as válvulas das veias não permitem o
sangue circule para baixo!
Os
corações das pernas O nosso sangue consegue subir nas veias profundas
das pernas e das coxas à custa da compressão, da força muscular dos
membros inferiores. Quando caminhamos, os nossos músculos contraem-se,
apertando, comprimindo as veias profundas entre os músculos de tal
modo que o sangue dentro das veias é como que esguichado para cima porque o
lúmen das veias fica mais fino, mais estreito. E para que o sangue não
desça, não volte para trás com a força da gravidade, a Natureza colocou
válvulas com palas dentro das veias profundas das pernas
e das coxas, mas que só se abrem num sentido, para cima,
quer dizer que o sangue não pode voltar para trás, para baixo. Com o caminhar o
processo repete-se e assim a contração dos músculos das coxas e das
pernas funcionam como se fossem "músculos cardíacos"
ou "corações secundários dos membros inferiores" a impulsionar o
sangue para cima, de regresso ao coração e ajudar a circulação
total.
O
aquecimento central das nossas casas, feito com água aquecida, tem dentro dos
canos umas válvulas com palas que se abrem só num sentido para que a água quente
circule só numa direção e assim complete a
circulação!
Pelas
razões acima expostas o melhor exercício para todos nós é
o caminhar. O bater do nosso coração está sincronizado com o
compasso dos nossos passos.
Todos
nós sabemos que quando estamos muito tempo sentados os nossos pés incham.
Igualmente
quando viajamos de avião as nossos pés e pernas têm tendência a inchar. Eu
quando viajo de avião a atravessar o Atlântico (6 a 7 horas), de trinta em
trinta minutos, levanto-me, seguro-me à cadeira da frente e marcho, marco
passo, exatamente para "contrair os corações das minhas pernas" e
quando chego ao meu destino não tenho os pés inchados.
As
hospedeiras de bordo fariam um serviço médico extraordinário se recomendassem
aos passageiros para que, de meia em meia hora, marcassem passo, vinte ou
trinta vezes.
Caminhar
sentado Todos os passageiros num avião deviam caminhar
sentados. Como? Fazendo o exercício chamado -- Baloiço
dos Calcanhares. Que diabo é isso? Muito fácil.
Sentado
numa cadeira faça o seguinte:
(1) Levantar
ambos as calcanhares. Quando fazemos isto sentimos os músculos da barriga das
pernas e das coxas a contraírem-se. Estão a comprimir as nossas veias profundas
e portanto a esguichar, a impulsionar o sangue para cima.
(2) Pousamos
os calcanhares no chão. Assim as nossas veias enchem-se outra vez de sangue.
(3) Agora
levantamos os dedos dos pés, mas mantemos os calcanhares no chão. Outra vez
sentimos que os nossos músculos da barriga das pernas e das coxas se contraem,
fazendo esguichar, impulsionar o sangue nas veias profundas para
cima.
(4) Depois
disto só temos que fazer a combinação dos mesmos exercícios, isto é, levantar
os calcanhares, baixá-los, levantar os dedos dos pés, baixá-los, e assim
sucessivamente, criando portanto um movimento em baloiço dos
calcanhares.
Com
este exercício é como se estivéssemos a tirar água à nora, a
impulsionar o sangue e os líquidos (linfa) das pernas para cima à
custa das contracções dos músculos das pernas e das coxas, que
devido ás suas contracções funcionam como se fossem verdadeiramente
músculos iguais aos músculos do coração!
Baloiço
dos calcanhares Mas não é só no avião que devemos tirar vantagem do
exercício -- Baloiço dos Calcanhares. Sempre que estejamos sentados!
E são muitos milhões de indivíduos que passam muitos milhões de horas
sentados a trabalhar ou a descansar.
Portanto
toda a gente, de dez em dez minutos deve fazer, pelo menos dez
vezes, o exercício baloiço dos calcanhares! Em casa a ver
televisão, no trabalho em frente a uma secretária ou a um
computador, não esquecendo os residentes das "nursing
homes" ou lares de terceira idade.
Com
o exercício, baloiço dos calcanhares, além de evitarmos
que os pés e as pernas fiquem inchados, o nosso sangue oxigena-se
muito melhor e evitamos também outra coisa muito importante: o
aparecimento de flebites podendo originar coágulos sanguíneos causando
tromboses ou rolhões nos pulmões que podem levar à a morte!
Portanto,
caros compatriotas, a minha mensagem médica de hoje é: todos
a marchar, mesmo sentados, como manda o Hino
Nacional Português,-- mesmo que seja contra os canhões-- para
gozarmos melhor saúde!
Amatus
Lusitanus Quem foi o cientista, o gênio que descobriu as
válvulas com palas nas veias profundas das nossas pernas e das nossa
coxas? Foi o português chamado João Rodrigues ou João Roiz, que
nasceu em Castelo Branco, na Beira Baixa, em 1511. Era Judeu Sefárdico
Português, médico praticante de cirurgia. Foi exilado por causa do decreto da
Expulsão dos Judeus editado por D. Manuel I em 1496. Tornou-se
célebre por toda a Europa e em 1547, em Ferrara, Itália, publicou
com o pseudônimo de Amatus Lusitanus, o seu magnífico trabalho, descrevendo
pela primeira vez no mundo, a existência das válvulas nas veias profundas dos
nossos membros inferiores!
Varizes O
que são varizes? São veias dilatadas. Podem aparecer em qualquer parte do
corpo, mas as mais conhecidas são as hemorróidas (dilatação das
veias à volta do anus) e as varizes das pernas.
Nas
veias das pernas, quando as veias se dilatam, as palas
das válvulas são forçadas a afastarem-se uma da outra, resultando
por isso um espaço maior ou lúmen, de tal maneira que o sangue em
vez de ir para cima, com a contração dos músculos das
pernas, vai para baixo, aumentando ainda mais a
dilatação das veias! Se a causa da varizes em certos casos é
hereditária, sabemos que a gravidez e certas ocupações que requerem
muitas horas de pé podem agravar as varizes. Para o seu tratamento
há duas formas: profilático e o cirúrgico. O profilático
consta do uso de meias elásticas durante o dia -- para diminuir o lúmen das
veias dilatadas -- e à noite, a
colocação de dois tijolo por baixo dos pés da
cama, para manter, a cama levemente inclinada e assim
permitir o esvaziamento das varizes durante a noite sem afetar a
comodidade de dormir. O tratamento cirúrgico consta da extirpação das varizes.
Hoje é uma operação fácil depois da qual o doente pode voltar a casa
quase sempre no mesmo dia. As varizes superficiais nas
pernas, que tanto preocupam as senhoras, duma maneira geral não têm importância
nenhuma, nem requerem tratamento nenhum. No entanto a
decisão final compete ao médico de família ou especialista.
Quero
terminar este artigo pedindo à D. Glória Melo da TAP Air Portugal
para publicar este artigo na revista de bordo, ou então dar aos passageiros da
companhia aérea nacional portuguesa uma cópia do
esquema do Exercício -- Baloiço dos Calcanhares
-- para terem ainda uma viagem mais agradável nos aviões da TAP
Air Portugal.
Balanço
dos calcanhares
(1)
Sentar-se numa cadeira.
(2)
Levantar ambos os calcanhares.
(3)
Baixar os calcanhares.
(4)
Levantar os dedos dos pés, mas manter os calcanhares no chão.
(5)
Repetir: levantar os calcanhares, baixá-los, levantar os dedos dos
pés, baixá-los. Repetir sucessivamente.
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