A hortelã-pimenta entrou na lista de fitoterápicos do SUS
como remédio para tratar a Síndrome do Intestino Irritável. Mas a planta tem
muitos outros poderes.
|
A hortelã-pimenta (Mentha x piperita L.) é a mais nova
integrante da lista de fitoterápicos disponíveis no Sistema Único de Saúde, que
agora oferece à população medicamentos à base de 12 plantas medicinais. Rica em
vitamina C, a hortelã já é conhecida por dar uma força no alívio dos sintomas de
gripes e resfriados, mas na relação do SUS ela aparece com a indicação para
tratamento da Síndrome do Intestino Irritável (SII). Este problema afeta 10%
dos brasileiros (a maior parte, mulheres) e tem como sintomas: dores
abdominais, diarreia ou prisão de ventre.
A inclusão da hortelã na lista do SUS veio um ano depois da
divulgação de um estudo, feito na Austrália, que comprovou pela primeira vez
que a erva, de fato, alivia a dor dos pacientes com a síndrome. Pesquisadores
da Universidade de Adelaide observaram que a Mentha x piperita L. ativa
um canal anti-dor no cólon (parte do intestino grosso), reduzindo a
sensibilidade das fibras intestinais. São elas que sofrem horrores quando a
pessoa ingere, por exemplo, temperos como mostarda e pimenta. A descoberta,
publicada no jornal Pain(Dor, em português) é o primeiro passo para
determinar um novo tratamento para a síndrome, afirmaram os cientistas.
Na época da divulgação do estudo, os pesquisadores
enfatizaram que o consumo de alimentos gordurosos e condimentados, além da
ingestão de cafeína e de álcool, não é o único fator que explica o aparecimento
da síndrome. “Parece haver uma ligação entre a SII e a ocorrência anterior de
gastroenterite, o que deixa as fibras do intestino mais sensíveis”, disse o
coordenador do estudo Stuart Brierley, especialista em dores do trato
gastrointestinal. A gastroenterite é caracterizada por inflamações causadas por
vírus, bactérias e parasitas que contaminam a água e os alimentos.
E aqui também a hortelã pode ajudar. A planta é dotada de um
princípio ativo, chamado óxido de piperitenona, capaz de eliminar amebas e
giardias, causadoras de dores de barriga, vômitos e diarreia. “A ação da
hortelã como antiparasitário é conhecida no meio acadêmico pelo menos desde
1985, mas desde muito antes já era considerada pelo povo como boa para combater
vermes”, afirma o agrônomo fitopatologista, Jean Kleber Abreu Mattos, professor
da Universidade de Brasília. Em seus estudos, Mattos já atestou altas
concentrações de óxido de piperitenona em três espécies: Mentha spicata, Mentha
suaveolens e Mentha x villosa. Mas quem tem pressão baixa deve ter
cuidado. “Estudos apontam o óxido de piperitenona como tendo uma possível ação
vasodilatadora”, alerta Mattos. Diante das particularidades de cada pessoa, é
indispensável conversar com um especialista antes de fazer uso da planta.
OUTRAS VARIEDADES PROMISSORAS
Hyptis crenata: esta é outra espécie de hortelã que pode
virar remédio contra a dor. Pelo menos essa foi a conclusão preliminar de um
estudo da pesquisadora brasileira Graciela Silva Rocha, pós-doutoranda pela
Universidade de Newcastle, na Inglaterra. Em um experimento feito com ratos, a
cientista observou que uma dose de chá de hortelã teve o mesmo efeito da
endometacina – uma substância analgésica e anti-inflamatória.
Mentha spicata: sua ação antimicrobiana foi comprovada pela
cirurgiã dentista Iza Teixeira Alves Peixoto, em sua tese de doutorado na
Faculdade de Odontologia de Piracicaba. Ela descobriu que o óleo essencial da
hortelã combate o fungo causador do “sapinho”. E o melhor é que a Mentha
não afetou o metabolismo das células epiteliais, agindo apenas no fungo. O
estudo é importante porque várias pesquisas já demonstraram que a eficácia dos
agentes antifúngicos usados atualmente, como o fluconazol, vem diminuindo
devido à resistência microbiana.
Nenhum comentário:
Postar um comentário