Nativa da Amazônia, ela fortalece o sistema imunológico além de exibir propriedades anti-inflamatórias. Por isso, é investigada para tratar várias doenças |
Por mais de 2000 anos, os índios
que habitam a Amazônia peruana têm usado a Uncaria tomentosa como
remédio para tratar males como gastrite, artrite e inflamações
em geral. A planta, nativa da região, teria sido usada também pelos incas. Mas
a espécie só foi descrita pela primeira vez no século 19 e, por causa de seus
espinhos afiados, foi batizada popularmente de unha-de-gato.
Desde os anos 1970, seus poderes
anti-inflamatórios e sua capacidade de fortalecer o sistema imunológico vêm
sendo comprovados em laboratórios mundo afora e, hoje, a espécie é investigada
não apenas no alívio de inflamações do reumatismo, uma de suas principais
indicações. A Uncaria é citada também em estudos relacionados ao câncer,
ao Mal de Alzheimer e à endometriose.
Mais de 50 princípios ativos já
foram isolados da planta, mas o grupo que apresenta mais atividades
farmacológicas é o dos alcaloides. “Eles possuem propriedades antivirais
e estimulam a produção das células de defesa”, explica a farmacêutica Isanete
Geraldine Biesk, estudiosa de plantas medicinais.
A presença dessa classe de
substâncias pode explicar, por exemplo, os bons resultados obtidos em um ensaio
clínico com a planta feito pela reumatologista Maria Cecília Cattai
Anauate, de São Paulo. A médica comparou os efeitos da Uncaria com os da garra-do-diabo,
outra espécie medicinal estudada por ela, em 40 pacientes com osteoartrite de
coluna lombar – uma inflamação que afeta a cartilagem articular principalmente
das mãos, da coluna e dos joelhos.
Por seis semanas, 20 pacientes
tomaram um fitoterápico de unha-de-gato e 20 o medicamento da garra-do-diabo.
“O resultado mostrou que todas as pacientes melhoraram da dor e nenhuma
precisou de medicação de resgate, que é dada caso a dor não melhore com o
fitoterápico”, explica Maria Cecília. Ela lembra que as contraindicações são as
mesmas dos anti-inflamatórios em geral, que devem ser usados com cuidado, por
exemplo, por quem tem pressão alta.
Outra pesquisa, esta do Instituto Oswaldo Cruz, do Rio de Janeiro, foi feita
em 2008 e investigou se a unha-de-gato tem potencial para controlar os sintomas
da dengue. Em laboratório, células de defesa do corpo contaminadas
com o vírus da doença reagiram com um extrato da Uncaria tomentosa e
o resultado foi a diminuição da produção de citocinas, proteínas de
resposta inflamatória que deflagram queda da pressão arterial e hemorragia – as
principais causas de morte por dengue.
O fitoterápico contra a
dengue ainda não existe, mas a espécie tem dado origem a outros remédios. “A
partir da Uncaria já estão sendo fabricados medicamentos para inflamações no
trato urinário, gastrointestinais, hepáticas e ainda antivirais, sobretudo para
pacientes deaids”, afirma Isanete. Há ainda os remédios usados para doenças reumáticas.
Uma pesquisa, realizada no Departamento de Medicina Interna do Innsbruck
University Hospital, na Áustria, comprovou a tradicional indicação para
reumatismos.
Os cientistas testaram um extrato
de Uncaria tomentosa em pacientes com artrite reumatoide por 52 semanas (cerca
de um ano). Parte do grupo recebeu placebo. Por volta da 24a semana, ou seja,
em aproxidamente seis meses, os pesquisadores observaram que na turma tratada
com o extrato houve uma maior redução no número de juntas doloridas (em 53%
contra 24% nos que tomaram o placebo).
A próxima da lista de males que
poderão vir a ser tratadas com a unha-de-gato é aendometriose, doenças que
causa cólicas menstruais fortes e infertilidade. O problema
acontece porque o tecido que reveste o útero (endométrio) migra para outros
órgãos, como ovários e intestinos, causando inflamações. No Ambulatório de
Endometriose e Dor Pélvica da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), um
fitoterápico de unha-de-gato tem aliviado os sintomas da endometriose, o que
levou os médicos a investigar melhor os efeitos do medicamento. Primeiro, eles
testaram o fitoterápico em ratas e observaram uma redução de 60% nas
inflamações. Agora o estudo está na fase clínica, ou seja, o medicamento está
sendo testado em pacientes, e novos resultados devem ser divulgados em breve.
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