Entenda o
papel da genética e da alimentação no surgimento da doença - por Manuela Pagan
As causas
do câncer ainda intrigam os especialistas, enquanto alguns hábitos são
notadamente perigosos (caso do tabagismo, por exemplo), ainda existe dúvida em
relação ao peso de fatores genéticos no surgimento da doença. A falta de
repertório não afeta só a população leiga, mas também os profissionais da saúde
- o assunto, inclusive, foi tema destaque no último congresso da Sociedade
Europeia de Oncologia Clínica, realizado na Áustria. Conscientes de que há
carência de informações seguras, principalmente, no que se refere à prevenção
do câncer, os especialistas dedicaram horas para apresentar o que já se sabe -
as revelações foram baseadas num estudo que avaliou as principais dúvidas de
748 pessoas quanto ao tema, a seguir você confere as principais novidades.
Genética
No
Congresso, os especialistas apresentaram um estudo com 748 pessoas, incluindo
profissionais de saúde, e 90% do grupo disse acreditar que a genética aumenta
significativamente o risco de câncer. "Na realidade, apenas 5% a 8% dos
tipos de câncer são, dependendo de sua localização, de fato causados por um
gene herdado", afirma o oncologista Artur Malzyner, da Clinonco, de São
Paulo. De acordo com o oncologista, a confusão provavelmente se dá porque
existem fatores externos, como o tabaco, o álcool e substâncias presentes no
plástico (como o bisphenol A) que causam a mutação dos genes, servindo como
gatilho para um câncer. "Mas existem tipos de câncer com predisposição mais
alta em caso de doenças de cunho genético, é o caso da polipose familiar do
cólon (crescimento que se projeta da parte interna do cólon ou do reto)",
diz o especialista.
Dieta
desintoxicante
Quando
questionados sobre como reduziriam seu risco de câncer, 27% dos entrevistados
acreditavam que colocar em prática uma dieta de desintoxicação seria um bom método,
enquanto 64% achavam que a comida orgânica protege contra o câncer. O
nutricionista Fábio Gomes, do Instituto Nacional do Câncer (INCA), explica que
o agrotóxico provoca vários problemas de saúde, mas a relação entre eles e o
aparecimento do câncer ainda não é certo. Na dúvida, alimentos orgânicos
continuam sendo a opção mais segura.
Carne
vermelha
Cerca de
40% dos entrevistados desconhecia a relação entre o consumo da carne vermelha e
o aumento do risco de câncer. Vários estudos já revelaram que comer muita carne
vermelha pode ser prejudicial à saúde. Um deles, realizado pela Universidade de
São Paulo e apresentado no Congresso da Sociedade Americana do Câncer, aponta o
alimento como fator de risco para o câncer de intestino. A pesquisa revelou que
quem consome carne bovina ou suína diariamente, em qualquer quantidade,
apresenta 35% mais chances de desenvolver câncer de intestino grosso.
Carne
processada
Está aqui
um dos fatores de risco mais conhecidos, 85% dos participantes sabiam do risco
de ingerir carne processada. O nutricionista Fábio Gomes explica que linguiça,
salsicha, bacon e até o peito de peru contêm quantidades consideráveis de
nitritos e nitratos. Essas substâncias, em contato com o estômago, viram
nitrosaminas, capazes de promover mutação do material genético. "A
multiplicação celular passa a ser desordenada devido ao dano causado ao
material genético da célula. Esse processo leva à formação de tumores,
principalmente do trato gastrointestinal", explica Fábio Gomes.
Telefone
celular
Para 68%
dos participantes da pesquisa, existe relação entre a radiação liberada pelo
telefone celular e o desenvolvimento de câncer. O oncologista Artur explica
que, de fato, existe tal associação (principalmente com tumores cerebrais) e
que, apesar de discreta, ela merece atenção. A pedido da Organização Mundial de
Saúde, 31 cientistas de 14 países revisaram estudos sobre a segurança do uso de
telefones celulares. Os especialistas encontraram evidência suficiente para
caracterizar o uso do aparelho como "possivelmente cancerígeno para
humanos".
Obesidade
Apenas 32%
dos participantes da pesquisa e 41% dos profissionais de saúde sabiam que a obesidade é
um fator de risco para o câncer. Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS),
cerca de um terço dos casos de câncer no mundo podem ser relacionados à
obesidade. O oncologista Artur lembra que a obesidade, além de ser um hábito
passado de pai para filho, também pode ser transmitida geneticamente. "Os
hábitos que causam a obesidade, como a alimentação rica em gorduras e a falta
de atividade física, afetam a família inteira", diz o médico.
Estresse
Mais de 90%
dos participantes do estudo apontaram que o estresse pode ser o
causador de câncer e eles estão certos. Alguns estudos já demonstraram que o
estresse pode causar câncer indiretamente por enfraquecer o sistema imunológico
e encorajar a formação de novos vasos sanguíneos para vascularizar o tumor.
Outro estudo, publicado no The Journal of Clinical Investigation mostrou
que hormônios como a adrenalina, liberada no momento de estresse, podem
influenciar o crescimento e a metástase do tumor. A dica no especialista,
entretanto, é para evitar o alarme exagerado. "Você precisa se
autoconhecer, diferenciando situações de tensão comuns no dia a dia do estresse
crônico, que causa alterações no organismo", afirma o oncologista Anderson
Arantes Silvestrini, presidente da Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica.
Roupas
apertadas
Roupas
apertadas também foram citadas pelos participantes da pesquisa como um fator
que aumenta a incidência do câncer. Segundo os pesquisadores do estudo e os
especialistas entrevistados, não existe qualquer relação entre roupas apertadas
e o desenvolvimento de tumores. O oncologista Anderson conta ainda que não há
qualquer ligação entre a compressão, no caso o sutiã, e o câncer de mama.
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