Artigo
americano propõe aumentar a recomendação diária do nutriente. Entre os
benefícios, estão maior proteção contra derrame, infarto e até câncer
Uma
goiaba - é o que basta para ingerirmos a quantidade diária de vitamina C
preconizada por órgãos americanos e válida também aqui, no Brasil. Ou seja, 75
miligramas para mulheres e 90 miligramas para homens. Porém, para Balz Frei,
pesquisador do Instituto Linus Pauling, nos Estados Unidos, esse valor não é
apropriado. Em artigo publicado na revista Critical Reviews in Food
Science and Nutrition, ele defende que a dose do nutriente para um adulto salte
para 200 miligramas - nas imagens que acompanham esta reportagem, você vê como
é fácil atingir a cota. "A vitamina C age como um potente antioxidante no
corpo, além de interferir na produção de óxido nítrico. Essas propriedades são
importantes para o controle da pressão arterial, evitando infarto e
derrame", alega Frei. "Se a recomendação aumentar, essa ação seria
otimizada", defende. Desvendamos por que a vitamina C merece tanto destaque
no cardápio e qual o limite para não cair em armadilhas.
Cientistas
da conceituada Universidade Johns Hopkins, nos Estados Unidos, divulgaram uma
revisão de 29 estudos que avaliaram a pressão dos voluntários e também o
consumo de ácido ascórbico - a alcunha mais formal da vitamina C. Eles
perceberam, ao final da análise, que a ingestão média de 500 miligramas da
substância estava associada a uma queda de 3,8 milímetros de mercúrio na
pressão arterial dos participantes. Alguns medicamentos, a título de
comparação, fazem essas taxas caírem 10 milímetros de mercúrio.
"Ao analisar pessoas que já apostavam em suplementação antes da pesquisa
e, por isso, tinham muita vitamina C percorrendo o corpo, vimos que doses
extras não trouxeram benefícios", ressalva Stephen Juraschek, principal
autor da revisão. Na prática, isso sugere que quantidades mais modestas, como
200 miligramas, já seriam capazes de fazer a pressão cair - desde que
consumidas regularmente, é claro.
Há duas principais hipóteses para justificar o efeito. "A vitamina C
parece ter ação diurética", relata o estudioso. Assim, ajudaria o
organismo a expulsar o sódio, composto sabidamente responsável por levar a
pressão às alturas. A segunda teoria é que a substância dá uma força na
dilatação das artérias. Ambos os mecanismos têm impacto direto no aperto que
prejudica os vasos e deixa o coração e o cérebro em perigo.
Memória preservada
Por falar em cérebro, um trabalho recém saído do forno concluiu que a vitamina C
também é uma beleza para afastar a ameaça da doença de Alzheimer. No projeto
assinado por especialistas da Universidade de Ulm, na Alemanha, 74 pacientes
com leve comprometimento nas funções cognitivas foram comparados a 158 pessoas
saudáveis. Todos beiravam os 80 anos de idade. Foi observado, então, que
aqueles prestes a desenvolver a enfermidade tinham quantidades bem menores de
betacaroteno e vitamina C passeando pelo corpo. Curioso é que outras
substâncias antioxidantes, a exemplo de licopeno e vitamina E, apareceram em
taxas similares nas duas turmas. "Nossa pesquisa ainda não nos permite
definir o que seria uma ingestão conveniente", diz Gabriele Nagel, uma das
autoras. "Porém, sabemos que a maioria da população não segue a
recomendação oficial de consumo de frutas e de outros vegetais", reflete.
A realidade no Brasil não é muito diferente. É que nem todo mundo investe
nesses grupos alimentares como deveria - os órgãos de saúde indicam cinco
porções por dia. Isso acaba refletindo nos níveis de ácido ascórbico no sangue,
já que o nutriente é detectado especialmente em frutas e companhia.
"Estudos demonstram que a baixa ingestão de vitamina C é muito comum por
aqui, chegando a ficar em 80% do ideal", confirma a nutricionista
Cristiane Cominetti, professora da Universidade Federal de Goiás, a UFG.
Felizmente, uma boa alimentação supre a carência de vitamina C. Além de manter
a pressão sob controle e o cérebro afiado, há indícios de que o nutriente
auxilia na prevenção da osteoporose. Para chegar a tal relação, estudiosos do
Mount Sinai Hospital, nos Estados Unidos, fizeram o seguinte: primeiro, tiraram
os ovários de uma parte de fêmeas de camundongos - condição que reduz a
produção hormonal e abala os ossos. Depois, elas foram divididas em dois
grupos. Só um recebeu bastante vitamina C durante oito semanas.
Ao final do período, os especialistas perceberam que a parcela que ganhou o
nutriente tinha uma densidade mineral óssea bem parecida com a de animais que
não passaram por nenhum procedimento. O restante dos roedores, por sua vez,
ficou com o esqueleto frágil. "O estudo mostra que altas doses de vitamina
C induzem células prematuras, conhecidas como osteoblastos, a se transformarem
em células maduras de propriedades mineralizantes, aumentando, assim, a
densidade óssea", avalia a nutricionista Karin Klack, da Divisão de
Nutrição e Dietética do Hospital das Clínicas de São Paulo. Para o reumatologista
Marcelo de Medeiros Pinheiro, do Hospital Alemão Oswaldo Cruz, na capital
paulista, é precipitado comemorar. "Não há experiências com seres humanos
indicando o mesmo efeito", argumenta. Quem sabe não seja um pontapé
inicial?
Quando se fala em câncer, no entanto, as evidências são mais evidentes.
"Por ser um potente antioxidante, a vitamina C pode reduzir o risco de
tumores inibindo danos oxidativos no DNA", explica a nutricionista Eliana
Vellozo, pesquisadora da Universidade Federal de São Paulo. Um importante
adendo é que, quando se extrapola no ácido ascórbico, ele passa a ter atividade
pró-oxidante. Aí as células correm sério risco. "Uma vez danificadas, elas
podem sofrer mutações genéticas e facilitar o desenvolvimento de tumores",
frisa o nutricionista Fábio Gomes, do Instituto Nacional de Câncer, o Inca. De
olho nisso, é bom saber: o limite máximo de consumo da substância é de 2 mil
miligramas ao dia. Contudo, mil miligramas já podem trazer vários desconfortos,
como distúrbios gastrointestinais.
Para uma parcela de pessoas, a enrascada vai além. "Para o excesso ser
eliminado, a vitamina C é convertida em oxalato. Quando esse composto se une ao
cálcio, temos a formação das temidas pedras que se depositam nos rins",
conta a nutricionista Karla Silva Ferreira, professora da Universidade Estadual
do Norte Fluminense Darcy Ribeiro, no interior do Rio de Janeiro. Isso prova
que se empanturrar de cápsulas pode não ser uma boa. Bem melhor focar no prato.
"A dose de 200 miligramas parece ser a adequada para abastecer células e
tecidos. Acima desse valor, o nutriente não teria utilidade", resume
Cristiane Cominetti, da UFG. Ainda bem que alcançá-lo não exige nenhum
sacrifício.
Contra gripes e resfriados?
Não é mito.
A vitamina C realmente afasta problemas no trato respiratório. Isso porque
estimula a formação de macrófagos, células que englobam e depois eliminam as
bactérias do mal. Só que não adianta investir no nutriente com o quadro já
instalado. Para deixar o sistema imune tinindo, o correto é consumir as fontes
da vitamina regularmente.
Reservas garantidas
A vitamina
C é sensível a altas temperaturas. Por isso, prefira vegetais crus ou
cozinhe-os rapidamente. Uma técnica bastante utilizada com hortaliças é o
branqueamento. "Primeiro, submeta-as a um rápido aquecimento. Isso inativa
certas enzimas e mantém, assim, a estabilidade das vitaminas", ensina a
nutricionista Cristiane Cominetti, professora da UFG. "Depois, é só
resfriá-las na água e levar para o congelador." No caso de sucos naturais,
a estratégia é tampar bem a jarra e colocar na geladeira. É que o oxigênio
causa a oxidação da substância.
Suplementar é uma boa?
Se a
intenção é apostar em pílulas cheias do nutriente, consulte antes um
especialista. Elas são indicadas somente para alguns grupos. "Geralmente
idosos, pacientes desnutridos ou em pós-operatório", informa Daniel
Magnoni, cardiologista e nutrólogo do Hospital do Coração, em São Paulo. Sem
contar que estudos têm apontado que, mesmo em concentrações adequadas, o ácido
ascórbico isolado nem sempre é tão eficiente. "Quando está no alimento,
entretanto, ele age em sinergia com outras substâncias", detalha o
nutricionista Fábio Gomes, do Inca.
Fonte: www.saude.abril.com.br
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