As águas claras batem nas escuras pedras, numa revolta límpida, clara, mansa e profunda, querendo num último e desesperado apelo conseguir fugir para sua tão sonhada liberdade.
Cada milímetro do rochedo é um novo desafio, uma amarra que a deixa cada vez mais distante de si mesma.
Rochedos molhados, respingados, escuros e úmidos, fixos como guardiões de um castelo, onde aprisionam a última e mais pura das criaturas, afugentam sua alma e calam sua fala, num último gesto em busca de socorro.
E eu lá, acima dos rochedos, assistindo todo aquele agonizante bailar, tão angustiante que o vento, num movimento brusco de libertar as águas, sopra meu rosto em movimentos sinuosos tomando meus cabelos no mesmo agonizante movimento da clara, límpida e triste água.
Num misto de desespero, violência e frustrados golpes do vento, as águas num movimento tétrico e com uma força, que mais parece um último suspiro para a liberdade, mais uma vez são barradas de voar ao encontro do vento, pelo imóvel e gélido rochedo.
O vento mais uma vez mostra sua força, uma força que corta amarras, refresca as angústias e carrega tristezas, limpando cada entranha de cada alma.
O vento mais uma vez mostra sua força, uma força que corta amarras, refresca as angústias e carrega tristezas, limpando cada entranha de cada alma.
E eu lá, acima dos rochedos, admirando o bailar de cada onda, como se fosse a última dança entre as águas e o vento, um amor que vem de longe, ao socorro de sua amada, numa força austera, gritante e de dor infinita.
Então me pergunto de onde vem tanta força, tanta garra, tanta vontade, seria do sofrimento das águas ou do amor do vento, de onde vem tanta força, tanta resistência, tanta persistência, o que faz com que a desistência e o cansaço não existam em momento tão conflitante...
Passam-se horas, anos e eras e a batalha entre as águas e os rochedos impedem com que o vento, em seu amoroso frescor, permaneça naquele angustiante cenário e os ventos vão, em busca de forças para retomar a batalha, forças encontradas no frescor da floresta, sua Mãe Maior, e no calor da energia dos raios do sol, seu Pai e seu Mestre... e no seu retorno, encontra seu transtorno em torno das águas na fortaleza dos rochedos...
E eu lá... acima dos rochedos...
Um comentário:
Intenso, profundo, sincero. Parabéns pelo poema! Deveria escrever mais vezes... a gente viaja quando lê cada frase, exatamente para esse cenário...
Postar um comentário